Algumas obras ultrapassam o senso comum do entretenimento digital e apostam no inusitado. É o caso desse simulador, que acaba de chegar ao mercado e, antes mesmo de ser jogado, já causa perplexidade pelo tema abordado. A proposta é simples, mas chocante para quem está acostumado com jogos tradicionais: simular situações que, na vida real, desencadeariam polêmica e até repúdio. O título faz exatamente o que promete, sem rodeios, sem filtro – o que, para muita gente, pode ser tanto um ponto forte quanto uma armadilha.
Além de chamar atenção pelo conteúdo, o simulador usa uma mecânica minimalista, focada em tornar o absurdo palpável e o desconforto recorrente. O objetivo não é fornecer uma experiência agradável, mas sim provocar reflexão sobre como o público consome e até normaliza situações-limite na cultura digital. Ele não é único nesse território; já existem outros jogos que exploram temas polêmicos, seja pelo humor negro, seja pela crítica social, mas poucos conseguem causar reações tão rápidas e divididas quanto esse.
Uma das maiores polêmicas dessa geração digital é de fato o limite entre a liberdade criativa e a responsabilidade do criador. Ao mesmo tempo que a indústria tenta inovar, sempre existe um debate sobre até onde é válido ir para prender a atenção do público. No caso do Brasil, por exemplo, há poucos jogos nacionais que exploram assuntos sensíveis ou tabus, e a maioria das experiências locais segue uma linha mais tradicional, com foco em entretenimento puro ou narrativas carregadas de identidade cultural, como é o caso de Hell Clock, que mistura ação com protagonismo nordestino, magia e zumbis, sem alardear o absurdo pelo absurdo[3].
O simulador, de fato, pode ser encarado como um experimento cultural ou artístico, mas também levanta questões sobre classificação indicativa, acesso e a influência desses conteúdos em públicos de diferentes idades. Para muitos especialistas, não basta ter liberdade de criação; é preciso pensar no impacto social e educativo do que é colocado em circulação.
Se você é do tipo que curte desafiar as próprias barreiras do entretenimento, esse talvez seja um jogo para maratona – ou ao menos para análise posterior. Mas, se prefere diversão sem sustos ou desconforto, talvez seja melhor pular direto para o próximo lançamento. Independente da escolha, uma coisa é certa: o mercado de games continua provando que há espaço para todo tipo de experiência, desde as mais absurdas até as mais tradicionais.
