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Nos últimos anos, um fenômeno chamado jornada de trabalho infinita tem impactado profundamente a rotina de milhões de profissionais ao redor do mundo. Diferente do que ocorria antigamente, quando era possível estabelecer um horário claro de início e fim do expediente, hoje as linhas entre trabalho, descanso e lazer estão cada vez mais borradas, especialmente com o avanço da tecnologia e o aumento do trabalho remoto.
Um estudo recente da Microsoft, baseado em trilhões de sinais de produtividade captados por ferramentas do Microsoft 365 e entrevistas com 31 mil trabalhadores em 31 países, revelou que muitos profissionais começam a trabalhar ainda na cama, por volta das 6 horas da manhã, checando e-mails e preparando-se para o dia que promete uma enxurrada de reuniões e demandas. O ritmo acelerado faz com que 1 em cada 3 trabalhadores admita ser impossível acompanhar a velocidade e quantidade de tarefas acumuladas nos últimos cinco anos.
A pesquisa aponta que o que antes seria tempo reservado para descanso ou lazer passou a ser consumido para colocar tarefas pendentes em dia, responder mensagens ou preparar o trabalho seguinte. Essa situação tem consequências reais para a saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores: 54% relatam sentir-se sobrecarregados e 39% afirmam estar exaustos. Além disso, a falta de clareza nas prioridades e a distância da liderança agravam esse cenário, tornando o ambiente de trabalho ainda mais desgastante.
A jornada de trabalho infinita também é marcada por longas horas em reuniões, muitas vezes que se estendem até o fim da noite, e um volume incessante de interrupções que drenam o foco e a produtividade. Entre 2024 e 2025, houve um aumento significativo em reuniões iniciadas após as 20 horas, reforçando a dissolução do horário comercial tradicional.
Especialistas e o próprio relatório da Microsoft defendem que o problema não está no excesso de trabalho, mas na falta de organização e na priorização equivocada das tarefas. O desafio atual é redescobrir um ritmo de trabalho que valorize o impacto e a qualidade das entregas ao invés da quantidade de horas ou tarefas realizadas. Nesse sentido, a inteligência artificial surge como uma aliada fundamental, capaz de automatizar atividades repetitivas e liberar tempo para trabalhos mais estratégicos e criativos.
Além disso, repensar a organização do trabalho implica em mudar a cultura das empresas para que líderes e equipes definam prioridades claras, ofereçam suporte e estabeleçam limites reais para o expediente, garantindo momentos efetivos de descanso e recuperação. Também é fundamental incentivar pausas regulares, promover o equilíbrio entre vida profissional e pessoal e investir em saúde mental no ambiente de trabalho.
Essa transformação não é apenas urgente, mas essencial para garantir uma força de trabalho saudável, motivada e produtiva no cenário atual e futuro, onde o avanço tecnológico deve servir para melhorar a qualidade de vida, e não para estender indefinidamente a jornada de trabalho. Reimaginar o trabalho, com inteligência e empatia, é o passo necessário para superar o ciclo da jornada infinita e construir um ambiente profissional mais sustentável e humano.
